terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Micoses

Micoses
ou
"TINHAS"



As micoses são também conhecidas como dermatofitoses (por serem causadas por fungos denominados dermatófitos) ou tinhas. Os dermatófitos receberam esta denominação por possuírem grande afinidade por estruturas corporais que possuem a queratina como sua principal fonte de alimentação.

Os principais dermatófitos causadores de micoses em cães são o Microsporum canis, o Microsporum gypseum e o Tricophyton mentagrophytes. As infecções por Microsporum canis são as mais comuns. Infecções por Microsporum gypseum são mais freqüentes em cães que ficam bastante em contato com a terra, se habitat, e causam lesões principalmente em patas e focinhos. Já as infecções por Tricophyton mentagrophytes freqüentemente se originam de um contato com roedores, reservatórios naturais deste fungo.




Microsporum canis no focinho do cachorro. 

Microsporum canis, visão do microscópio.

Microsporum canis nas patas dos cachorro.

É importante salientar que as dermatofitoses são zoonoses de fácil transmissão.

As lesões provocadas pelas micoses não apresentam um padrão, podendo manifestar-se de forma completamente diferente segundo cada caso. Geralmente são caracterizadas por seu aspecto anelar que se deve ao fato do crescimento dos fungos ocorrer de forma centrífuga. Estas lesões são alopécicas e geralmente apresentam uma área central pálida e um halo externo avermelhado. A região pode ou não estar inflamada e, enquanto alguns animais não apresentam prurido, outros podem apresentar. Também é comum a presença de escamas ou “caspas” na lesão.
 
Um estudo realizado recentemente na Universidade Federal do Rio Grande do Sul revelou que há uma incidência muito grande de cães sendo submetidos a tratamentos antimicóticos sem necessidade, em decorrência de diagnósticos equivocados. De 250 cães dermopatas, somente 7,5% apresentavam dermatofitose, entretanto, 15,2% deles já haviam recebido ou estavam recebendo terapia antifúngica sem que o problema dermatológico tivesse sido resolvido. Isso induz não só a insucessos terapêuticos, mas também a danos colaterais desnecessários aos animais e, principalmente, ao descontentamento dos proprietários e do próprio clínico.
 

Microsporum canis em gato.

Microsporum canis em gato.

Microsporum canis em gato.

Para o diagnóstico da dermatofitose é indispensável o exame laboratorial devido a falta de padrão das lesões. O bom diagnóstico laboratorial, por sua vez, começa na coleta bem feita do material. Para tanto, é preciso que a lesão esteja livre de sujidade devendo, caso contrário, ser lavada com água e sabão neutro. O excesso de pêlo da lesão deverá ser cortado e a região deve ainda ser desinfetada com álcool 70 GL. Os pêlos devem ser coletados da borda da lesão e o material deve ser conservado à temperatura ambiente e enviado ao laboratório quando possível, lembrando–se que o resultado a cultura (melhor forma de diagnóstico pois estabelece gênero e espécie do fungo) leva em média 10 a 14 dias. É comum o crescimento de fungos sapróbios dos gêneros Aspergillus, Alternaria, Penicillium, Mucor, etc. que não causam micoses cutâneas e não requerem, portanto, terapia antimicótica.
 
O diagnóstico diferencial deve ser feito para foliculite bacteriana, e, principalmente, demodicose.
 
Um simples, mas importante exame auxiliar para detecção do fungo Microsporum canis é o teste da Lâmpada de Wood. Este aparelho consiste em uma fonte de luz ultravioleta que, ao ser filtrada pelo óxido de níquel, produz, em alguns fungos, uma fluorescência amarelo-esverdeada, devido a presença do metabólito fúngico triptofano nos pêlos.
 

Microsporum canis no gato. Teste da Lampada de Wood.
Outro microrganismo de extrema importância que deve ser citado é a Malassezia pachydermatis, também conhecida como Pityrosporum canis. Trata-se de uma levedura comensal, capaz de se converter em um patógeno oportunista, encontrado na pele (saco anal, vagina e reto) e canal auditivo dos cães. Os fatores que favorecem o crescimento desta levedura incluem aumento de produção de cerúmen e substratos lipídicos (sebo), aumento da umidade relativa do ouvido e distúrbios da imunidade celular. Alterações da microflora normal do ouvido e da pele por anterior ou concorrente antibioticoterapia ou corticoideterapia podem também predispor ao crescimento da Malassezia.
 
A Malassezia produz lipases, proteases e outras enzimas que liberam ácidos graxos inflamatórios, causando inflamação e prurido de forma direta e indireta. De maior importância, entretanto, são as reações de hipersensibilidade a estes e outros antígenos solúveis. Atualmente, é sabido que os alérgenos responsáveis pela manifestação clínica de dermatite atópica ganham acesso ao organismo e ao sistema imune através da penetração percutênea. Os alérgenos derivados de microorganismos residentes na superfície da pele, como a Malassezia; e, portanto, localmente liberados, contribuem para a carga alergênica e tornam-se os principais fatores de todo o processo alérgico.
 
Uma toxina chamada de “Zimogen” é liberada pelas paredes da célula da Malassezia e esta liberação causa ativação da via do sistema complemento, diminuição da imunidade celular e produção de linfocinas. Este fungo tem também uma grande habilidade de se aderir a queratinócitos em dermatites atópicas e seborréicas.
 
A importância da hipersensibilidade a Malassezia decorre em primeiro lugar das observações clínicas. Todos os casos da dermatite atópica devem passar pela contagem de Malassezia como um processo de rotina, não apenas como uma avaliação inicial, mas também durante a terapia. Em muitos casos, a terapia antifúngica pode resultar uma significante diminuição do nível de prurido. Algumas vezes isso ocorre em casos com pequena evidência de crescimento significante da Malassezia que possa sugerir a hipersensibilidade do paciente.
 
Nas dermatites por Malassezia, o prurido é um achado consistente. Ele pode ser severo e não responsivo a terapias com antibióticos ou corticóides. As lesões são variáveis, mas incluem eritema com uma quantidade variável de crostas, hiperpigmentação, liquenificação e auto-traumatismo. As crostas podem ter coloração amarelas, cinzas ou castanhas. Um odor característico é freqüente. O animal poderá apresentar-se com seborréia seca ou oleosa. A distribuição clássica das lesões incluem face, pés, abdômen, região ventral do pescoço, axilas e coxas.




Malassezia no cachorro.

Malassezia no cachorro.

Malassezia no cachorro.

O diagnóstico é feito pela demonstração do organismo por citologia, cultura e histopatologia e pela resposta ao tratamento. Diagnósticos diferenciais nos casos de dermatites por Mallassezia devem incluir atopia, alergia alimentar, DAP, sarna demodécica, acne, linfoma epiteliotrópico, seborréia, pênfigo e dermatofitose.



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