quarta-feira, 30 de março de 2011

Tire suas dúvidas sobre a dengue tipo-4

        Ameaça de epidemia deste subtipo de vírus preocupa autoridades e população. Entenda a doença e saiba como se defender.

Os riscos de uma epidemia de dengue do tipo 4 já colocaram em alerta as autoridades de saúde do País e estão deixando apreensiva a população nas regiões onde o vírus foi identificado.

Casos deste sorotipo, que não eram registrados há quase 30 anos no Brasil, começaram a surgir no ano passado, inicialmente em Roraima e no Amazonas. Nas últimas semanas, no entanto, foram confirmadas ocorrências também no Pará, na Bahia e no Rio de Janeiro.

Médicos e outros profissionais envolvidos no combate à dengue afirmam que é preciso redobrar o trabalho de combate ao mosquito Aedes aegypti, a fim de tentar evitar a circulação do sorotipo 4 do vírus, bem como agir rapidamente em caso de suspeita da doença.

A seguir, especialistas do Instituto Oswaldo Cruz / Fiocruz, do Rio de Janeiro, do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, de São Paulo, e do Ministério da Saúde esclarecem as dúvidas sobre a dengue tipo 4 e orientam como se defender dela. 

O que é a dengue tipo 4?
Existem quatro sorotipos da doença: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Do ponto de vista clínico todos são absolutamente iguais e vão gerar o mesmo quadro. “O que distingue cada sorotipo são pequenas diferenças em suas composições genéticas”, diz a virologista do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) Rita Nogueira. Mas todos podem causar tanto a forma clássica da doença quanto provocar manifestações mais graves. 

O mosquito transmissor é o mesmo?
Sim. Trata-se do mesmo vetor, a fêmea do Aedes aegypti. “O mosquito sempre teve hábitos periféricos, mas com o crescimento das cidades ele se adaptou às zonas urbanas. Portanto, seu alcance hoje é muito maior”, diz o infectologista Jean Carlo Gorinchteyn, do Instituto Emilio Ribas. O Aedes é parecido com o pernilongo comum, mas seu corpo é escuro e rajado de branco e ele tem o hábito de picar durante o dia.

 Por que só a fêmea do mosquito transmite a doença? 

A fêmea precisa de sangue para a produção de ovos. Tanto o macho quanto a fêmea se alimentam de substâncias que contêm açúcar (néctar e seiva, entre outros), mas como o macho não produz ovos, não necessita de sangue. Embora possam ocasionalmente se alimentar com sangue antes da cópula, as fêmeas intensificam a voracidade pela hematofagia após a fecundação, quando precisam ingerir sangue para realizar o desenvolvimento completo dos ovos e maturação nos ovários. Pesquisadores da Fiocruz apontam que, normalmente, três dias após a ingestão de sangue as fêmeas já estão aptas para a postura, passando então a procurar local para desovar.

Quais são os sintomas da dengue tipo 4?
“Todos os sorotipos apresentam as mesmas manifestações clínicas“, diz a virologista Rita Nogueira. Os sintomas, portanto, são: dores pelo corpo e nas articulações; dores de cabeça (com o incômodo localizado acima e atrás dos olhos); febre alta e cansaço intenso. Podem ocorrer ainda náuseas, falta de apetite e dor abdominal. Os sintomas costumam surgir de três a quinze dias após a picada do mosquito infectado. A dengue não vem acompanhada de quadros de espirro ou tosse. 

Quanto tempo dura o quadro?
De acordo com especialistas do Ministério da Saúde, a febre costuma durar de três a oito dias. E geralmente o doente leva uma semana para se recuperar. A prostração e a falta de apetite podem demorar até 15 dias para desaparecer. A recuperação costuma ser total. 

Quem já teve outros tipos de dengue está imune ao DENV-4?
Não. A imunidade associada à dengue é sorotipo-específica. Ou seja, quando uma pessoa é infectada por um determinado sorotipo da dengue, fica imune apenas contra ele. Deste modo, um indivíduo pode ter dengue no máximo por quatro vezes, cada uma delas causada por um sorotipo diferente. 

O tipo 4 é um vírus mais agressivo?
Não há indícios até o momento de que o sorotipo 4 da dengue seja mais agressivo que os demais. De acordo com os especialistas da Fiocruz, podem ocorrer formas graves da doença na infecção por qualquer sorotipo do vírus e mesmo em pacientes que estão tendo dengue pela primeira vez.

Parece ser uma forma mais branda, menos virulenta, da doença. Mas se trata de um sorotipo ‘novo’ e a população brasileira não está imune a ele, o que a deixa mais vulnerável”, explica o infectologista Jean Carlo Gorinchteyn. 

O sorotipo DENV-4 pode causar dengue hemorrágica?
Sucessivas infecções pelo vírus da dengue trazem a possibilidade de formas mais perigosas da doença. Se a pessoa já teve outro tipo de dengue, eventualmente pode ter uma reação mais intensa do sistema imunológico e ter dengue hemorrágica.

Como é feito o diagnóstico?
É feita uma avaliação clínica, mas a confirmação se dá por meio do exame laboratorial. 

O tratamento da dengue tipo 4 é diferente?
Não. É exatamente igual ao das outras formas da doença. “O sorotipo do vírus não interfere no tratamento, que deve seguir a conduta prevista nos manuais do Ministério da Saúde”, diz a virologista Rita Nogueira. “São recomendadas medidas como repouso, hidratação e analgesia. Por ser uma doença viral, não se trata com antibióticos”, explica o médico do Instituto Emílio Ribas. Mas é preciso cuidado com antitérmicos e analgésicos: eles não devem conter ácido acetilsalicílico na fórmula, pois essa substância tem efeito anticoagulante, o que pode causar sangramentos. 

Como evitar a dengue tipo 4?
Deve-se combater os focos de acúmulo de água, locais propícios para a criação do mosquito transmissor da doença. Não acumule água em latas, embalagens, copos plásticos, tampinhas de refrigerantes, pneus velhos, vasinhos de plantas, jarros de flores, garrafas, caixas d´água, tambores, latões, cisternas, sacos plásticos e lixeiras, entre outros. “Em caso de suspeita de focos de dengue, comunique a vigilância sanitária”, diz o médico Jean Carlo Gorinchteyn.

Em áreas com risco de epidemia, procure usar roupas claras, que ajudam a identificar a presença do mosquito. Repelentes possuem ação limitada e não eliminam o mosquito, apenas o mantêm distante.

Os especialistas ressaltam também que a mobilização da população é fundamental para apoiar as ações de intensificação do controle do vetor.


Fonte: Portal IG Saúde (saude.ig.com.br)

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