Identificação
A identificação da espécie (ou espécies) infestante(s) na área alvo é uma necessidade absoluta, posto que, ao identificar-se qual o roedor problema, automaticamente obtém-se uma série preciosa de informações sobre sua biologia, hábitos e habilidades Tais conhecimentos são indispensáveis facilitando sobremaneira o planejamento das ações de combate.
Essa identificação poderá ser feita, sempre que possível, pelo exame das características fìsicas de um espécime recolhido na área; se um exemplar não estiver disponível, o exame das numerosas fezes (cíbalas) facilmente encontradas na área permitirão o diagnóstico, no caso das espécies comensais.
Local com fezes em quantidade, evidenciando a presença de roedores
Se for possível recolher dados que permitam uma avaliação prévia da intensidade da infestação, o planejamento será mais acurado, principalmente no aspecto de cálculo sobre os volumes de raticidas a serem eventualmente utilizados.
Medidas preventivas e corretivas (anti-ratização)
É o conjunto de medidas preventivas e corretivas adotadas no meio ambiente que visam impedir e/ou dificultar a implantação e expansão de novas colônias de roedores.
Examinado o ambiente e identificada a espécie, tem-se condições de apontar as razões da ocorrência daquela infestação: de onde vem, para onde está indo, por onde passa e circula, o que busca e de que se alimenta, onde estão suas ninheiras, etc.
Com base nesses dados, pode-se apontar as medidas que, no conjunto, sejam capazes de interferir na instalação, sobrevivência e livre proliferação dos roedores infestantes naquela área.
Algumas dessas medidas são corretivas do meio ambiente e visam a retirada de certas condições que estão facilitando a infestação dos roedores. Entre elas, por exemplo:
- Um manejo adequado do lixo com melhor acondicionamento, locais de deposição e transporte apropriados e protegidos dos roedores.
Lixo jogado dentro de córrego obstruindo a passagem das águas
Lixo para ser coletado pelo lixeiro, sujeito ao ataque de roedores
O lixo doméstico deve ser acondicionado em latões tampados para que não sejam acessados por roedores. Se forem, no entanto, acondicionados em sacos plásticos, estes não devem ser deixados nas calçadas, ao nível do piso à espera do caminhão coletor; devem ser dispostos sobre anteparos apropriados que os mantenham longe do solo ou sobre o muro da residência, se este for de uma altura que permita ser recolhido manualmente pelo gari.
Disposição de lixo fora da lixeira, faciliando o alcance pelo roedor
Os vazadouros do lixo coletado pelo serviço público, devem ser operados como aterro sanitário e não como depósito a céu aberto, conhecidos como “lixões”.
Lixão a céu aberto atraindo a presença de roedores e outros animais
- Um reparo de danos estruturais que possam estar servindo de via de acesso aos roedores.
Danos em esgoto domiciliar
- A modificação de vias de acesso naturais eventualmente existentes.
- A remoção de entulhos e materiais inservíveis que possam estar servindo de abrigo aos roedores.
Entulhos no quintal de domicílio
- A canalização de córregos a céu aberto é por si só uma medida que dificulta extraordinariamente a instalação de ratazanas nas barrancas de suas margens.
Um outro conjunto de medidas, agora de caráter preventivo, poderá evitar a penetração ou a presença de roedores na área. Pode-se citar entre elas, a título de exemplo:
- A construção de edificações à prova de roedores, ou seja, construir de forma tal que a penetração ativa dos roedores naquelas instalações torne-se praticamente impossível.
Ilustrações mostrando edificações à prova de roedores
- Aplicação de defensas nas estruturas de sustentação (pilotis, vigamento do telhado, etc.) e nas fiações aéreas que chegam à edificação. Essas defensas são discos de lata com forma de “chapéu chinês” que, ajustados em torno das colunas e vigas, impedem a ultrapassagem dos roedores, quando colocados a no mínimo 1,50 m do solo. Em torno de fios e cabos, discos planos de lata com raio mínimo de 40 cm, constituem barreiras intransponíveis para os roedores em geral.
Aplicação de defensas nas estruturas de sustentação
- Criação de barreiras físicas nas galerias subterrâneas de água, esgotos, águas pluviais ou de cabeamento.
- Aplicação de dispositivos unidirecionais no primeiro segmento de manilha conectada ao vaso sanitário, dispositivos esses que impedem o acesso dos roedores por essa via.
- Uso de ralos metálicos chumbados ao piso com grade permanente.
- Uso de fortes telas metálicas de 6 mm vedando os respiradouros (especialmente dos porões) e no bocal das calhas e condutos de águas de chuva.
- Evitar o acúmulo de entulhos, de materiais de construção ou inservíveis e outros materiais próximos às residências.
- Construção de lixeiras de alvenaria vedando o acesso dos roedores.
- Reflorestamento com espécies nativas ou reconhecidas como pertencentes àquele bioma8, o que visa recompor o ecossistema antes perdido da região.
Desratizacão
A desratização é a utilização de processos capazes de produzir a eliminação física dos roedores infestantes. Esse objetivo pode ser atingido, especialmente quando a infestação for inicial ou de grau leve a moderado, por meio de processos mecânicos ou físicos como o emprego de ratoeiras, armadilhas e outros dispositivos de captura. O uso de aparelhos de ultra-som ou eletromagnéticos não é recomendável em larga escala em virtude de seu limitado potencial de ação e os custos de manutenção.
As armadilhas colantes podem ser empregadas com relativo sucesso contra camundongos (Mus musculus) e outros não comensais de igual porte (Oligoryzomys, Akodon e Bolomys) mas sofrem restrições de caráter humanitário em virtude da lenta agonia a que o animal capturado é submetido.
Outra forma de obter-se a eliminação dos roedores infestantes é por meio de processos químicos, onde são utilizadas substâncias denominadas genericamente de raticidas, embora fosse mais apropriado chamá-las de rodenticidas.
Em todo o mundo, o grupo químico mais utilizado como raticida são os anticoagulantes por serem muito eficazes a baixo custo, além de possuírem razoáveis margens de segurança no uso e, acima de tudo, a existência de antídoto confiável.
Tratados num capítulo à parte neste manual, os métodos de combate visam a diminuição rápida dos níveis de infestação encontrados numa área problema.
Avaliação e monitoramento
A derradeira fase de um manejo integrado voltado para roedores é a avaliação dos resultados com um acompanhamento posterior para evitar seu recrudescimento. Reinspeções periódicas da área devem ser programadas e executadas por pessoal treinado, capaz de, a uma simples inspeção, identificar os clássicos sinais da presença de roedores: materiais roídos, trilhas, manchas de gordura, fezes, etc.
Pequenos segmentos de tábuas planas polvilhadas com talco, se colocadas nos pontos mais prováveis de circulação dos roedores, evidenciarão claramente suas pegadas e deflagrarão a intensificação do programa de controle.
O manejo integrado dos roedores é o método mais eficaz para atingir-se níveis de controle e até a erradicação de uma infestação murina, porque combate o roedor em três frentes ao mesmo tempo, por meio de medidas preventivas, de medidas corretivas do meio ambiente e da eliminação do roedor já instalado na área. Contudo, como todo método, não é infalível e é fortemente dependente da ação de seus executores, ou seja, requer atenção e especialização no assunto, além da participação efetiva da comunidade envolvida. Se mal empregado ou conduzido de forma inapropriada, o controle dos roedores pode desembocar em outra vertente, desta feita indesejável, que é o chamado “efeito bumerangue”.
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